Mais eficiência: até 57% mais etanol por hectare sem aumentar área plantada
Inovação do CNPEM aproveita o bagaço da cana-de-açúcar e pode revolucionar a eficiência da produção de biocombustíveis no Brasil
O Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), localizado em Campinas (SP), desenvolveu uma tecnologia enzimática inovadora capaz de ampliar em até 57% a produção de etanol por hectare, sem a necessidade de aumentar a área cultivada com cana-de-açúcar. O avanço foi destacado em publicação da Revista Crea-SP e reforça o papel do Brasil como líder global em biotecnologia aplicada à bioenergia.
A inovação consiste em um coquetel enzimático capaz de liberar a glicose presente no bagaço da cana, um subproduto antes subutilizado. “Com essa tecnologia, a mesma quantidade de biomassa pode gerar muito mais combustível, aproveitando resíduos que antes tinham valor limitado”, explica Mário Tyago Murakami, pesquisador do CNPEM e integrante da equipe responsável pela implementação da Política Nacional de Biossegurança de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs).
De resíduo a recurso estratégico
Tradicionalmente, apenas a sacarose do caldo da cana é convertida em etanol. O bagaço — rico em celulose e hemicelulose — permanecia como resíduo ou era utilizado principalmente na geração de energia térmica. O novo processo desenvolvido pelo CNPEM transforma essas frações lignocelulósicas em açúcares fermentáveis, abrindo caminho para uma segunda geração de etanol (E2G) mais eficiente e sustentável.
Validação e potencial industrial
A tecnologia já foi validada em planta-piloto e possui patentes depositadas, sinalizando maturidade tecnológica e potencial de aplicação em escala industrial. Além de ampliar a produtividade sem necessidade de novas áreas agrícolas, o método contribui para reduzir emissões e aumentar a rentabilidade do setor sucroenergético.
“O impacto pode ser decisivo para São Paulo, que busca manter sua competitividade frente à expansão da produção de etanol de milho em outras regiões do país”, destaca a nota do Crea-SP.
Sustentabilidade e futuro do etanol brasileiro
Com a pressão global por energias de baixo carbono, soluções como essa reforçam a importância da bioeconomia na matriz energética nacional. Ao integrar inovação biotecnológica e eficiência agrícola, o CNPEM mostra que é possível produzir mais energia limpa a partir dos mesmos recursos naturais, consolidando o etanol de cana como um dos biocombustíveis mais sustentáveis do mundo.