“Murcha da Cana” pode gerar prejuízos de até R$ 125 por tonelada a cada 1% de infestação
Introdução
A cana-de-açúcar é um pilar estratégico para a produção de açúcar, etanol e bioenergia no Brasil. Nos últimos anos, uma síndrome emergente — conhecida como Síndrome da Murcha da Cana (SMC) — vem gerando preocupação entre pesquisadores, produtores e usinas. Este artigo apresenta o que já se sabe sobre a SMC, seus impactos, os agentes associados e as perspectivas de manejo.
O que é a SMC e quais seus sintomas?
A SMC se caracteriza pelo murchamento dos colmos, mesmo em plantas que antes pareciam sadias. Em muitos casos, os colmos secam ou perdem turgidez e, ao serem cortados, apresentam coloração interna avermelhada ou marrom.
Entre os sintomas externos mais comuns estão:
- Descoloração da casca e perda da camada cerosa;
- Enfraquecimento estrutural dos internós;
- Necrose interna em estágios avançados;
- Presença de estruturas fúngicas ou esporos nos tecidos afetados.
Agentes patogênicos associados
Ainda não há consenso sobre uma causa única para a SMC. Evidências sugerem que ela resulta da combinação de fungos patogênicos com condições de estresse da planta, como seca, altas temperaturas, pragas de solo e desequilíbrios nutricionais.
Entre os fungos mais associados destacam-se:
- Phaeocytostroma sacchari (predominante em amostras recentes);
- Fusarium spp.;
- Colletotrichum falcatum.
Ensaios laboratoriais indicam que P. sacchari pode reproduzir sintomas da SMC quando inoculado em colmos sadios, sugerindo forte ligação com a síndrome.
Impactos na produtividade e qualidade
A SMC tem causado prejuízos significativos em diversas regiões produtoras:
- Reduções de 25% a 45% na produtividade (TCH) em áreas gravemente afetadas;
- Diminuição do ATR e alterações no índice de Brix;
- Maior vulnerabilidade a infecções secundárias.
Relatos do setor indicam que cada 1% de colmos murchos pode representar até 0,75 tonelada de cana perdida por hectare, equivalente a R$ 125 por tonelada — embora tais números não estejam ainda respaldados por estudos acadêmicos revisados.
Estratégias de manejo
Atualmente, não há solução definitiva para a SMC, mas algumas práticas ajudam a reduzir seus efeitos:
- Monitoramento frequente da lavoura;
- Colheita antecipada em áreas de risco;
- Uso de mudas certificadas e livres de patógenos;
- Correção do solo e nutrição equilibrada;
- Rotação ou reposicionamento de variedades suscetíveis;
- Aplicação criteriosa de fungicidas, quando indicado;
- Erradicação de canaviais severamente afetados, em casos extremos.
Conclusão
A Síndrome da Murcha da Cana é uma ameaça crescente à sustentabilidade da canavicultura brasileira. Embora os prejuízos relatados sejam expressivos, ainda faltam pesquisas científicas conclusivas que quantifiquem a magnitude real das perdas.
Avançar no entendimento da SMC exige estudos regionais, monitoramentos contínuos, desenvolvimento de variedades resistentes e integração entre pesquisa, produtores e usinas. Somente com uma abordagem conjunta será possível mitigar os impactos dessa síndrome e garantir a competitividade da cana no Brasil.